A política é um berço condutor de ideologias, ideias, conceitos, princípios e homens, alguns íntegros, outros nem tanto, na busca de um projecto individual ou colectivo que possa beneficiar toda a sociedade. Nesta caminhada, os agentes políticos tendem a unir-se em organizações, ou partidos políticos, para a prossecução dos objectivos a que se propõem, normalmente a tomada do poder do Estado.
Por William Tonet
Não existe uma fórmula exacta, para a chegada ao poder, pese existirem, na maioria dos Estados, fascistas ou democráticos (ou em transição), regras e normas jurídicas, para este desiderato. No entanto, na maioria das vezes, muitos chegam ao topo da pirâmide de partidos e países não através da capacidade, competência ou carisma dos seus mais altos dignitários, mas pela máquina de apoio ou grupos de pressão para quem, regra geral, os fins justificam o uso de todo o tipo de meios.
Bafejados pela sorte, não deixam de alojar os seus companheiros de rota, na lógica defendida pelo renomado filósofo, Marcus Tullius Cicero de que: “Nenhum dever é mais importante do que a gratidão”.
Infelizmente, o mundo está prenhe de podridão e nem sempre se reconhece aqueles que, num dado momento, nos empurraram para a glória. Os exemplos estão à mão de semear: Hitler, Stalin, Mussolini, Pinochet, Franco, Idi Amin Dada, Paul Bia, Agostinho Neto, entre outros.
Muitos dos atrás referenciados chegaram ao poder através dos lugares-tenentes, que lideravam as potentes máquinas de propaganda, ou mesmo máquinas bélicas de morticínio.
No caso angolano, Agostinho Neto não teve contemplação pelos muitos que o fizeram presidente do MPLA e da República, nomeadamente, Mário Pinto de Andrade, Matias Miguéis, Domingos Kiosa, Viriato da Cruz, Gentil Viana, Sotto Mayor, Alves Bernardo Nito Alves, entre outros.
A cega obsessão pelo poder fê-lo cometer muitas injustiças, sendo a maior a chacina do 27 de Maio de 1977, onde chancelou o assassinato de cerca de 80 mil cidadãos inocentes, sem culpa formada e julgamento justo.
Neto, ao contrário da máquina de propaganda, não passou, para muitos, de um líder medíocre, que andou sempre em sentido contrário à unidade e reconciliação interna do MPLA. A sua chegada foi um elemento fracturante, desde logo como mentor da Revolta Activa, posteriormente, da Rebelião da Jiboia, que derivou na Revolta do Leste, o assassinato bárbaro e cruel, do comandante Paganini, em fogueira, no ano de 1968, acusado de feitiçaria e tentativa de golpe contra a direcção, em Brazzaville.
Posteriormente, depois de ter sido salvo por Nito Alves, no Congresso de Lusaka , em 1974, onde perdeu as eleições, para Daniel Júlio Chipenda, sem apelo nem agravo, mandou-o assassinar em 1977.
Infelizmente esta postura, eliminação dos adversários internos, colocando-os como bodes expiatórios, institucionalizada por Agostinho Neto é a imagem de marca do MPLA, seguida por todos os sucessores, em alguns casos com meras nuances de uma maquilhagem mais actualizada.
É a típica actuação das castas, eliminar os vestígios da anterior, em nome do pai, do filho, do espírito Santo e, até, do Amém.
Muitos batem palmas, esquecendo-se de uma célebre frase de Charles Louis de Secondat, mais conhecido por Barão de Montesquieu: “A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos”.
O momento actual, devido à crise, exigia e exige mudanças de paradigma na política e governação do país, mas não pode resvalar no ocaso de um autoritarismo incubado.
A necessidade do novo não deve estar dissociada da unidade, coesão e engajamento geral, na luta contra a corrupção, o nepotismo e todas as ladroagens no universo público, visando impedir, como deixou verbalizado o presidente João Lourenço, a ascensão do absolutismo de um homem só, capaz de hipnotizar, com paliativos, o país e, mais grave, aprisionar a soberania dos poderes, legislativo e judicial. Isto por a razão de um Presidente da República, por mais justa que seja, não poder suplantar a razão do Estado.